FFW

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Acordei uma manhã de Inverno e queimei todos os meus poemas. Fi-lo para que não houvessem palavras, como aquelas que faltaram a Torga, e como o senti então. Mas não houve nada de dramático, apenas de insensato, uma total ausência de lógica, daquelas que nos lembra um qualquer Deus cheio de ironia a pregar-nos partidas.
Já não uso relógio e desfiz-me de agendas e calendários. Se não posso controlar o tempo vou antes enganá-lo. Então empurra-se a vida para a frente, para que aconteça a que custo for, mas que não páre. Rezo a todos os Deuses, eu que não acredito em nenhum, que por favor não páre.
A invisibilidade foi-me sempre uma arte cara e fácil, e foi assim que percebi que era aquela gente perdida que fazia mover os dias através de uma lente. Já não podia dizer-to, mas tive a certeza. Desconfiava das pessoas como dos poemas, e se os ouvia era por pura condescendência, uma espécie de altruísmo moderno, a que escapa todo o romantismo.
A vida passa em fast forward. Trago na ponta dos dedos uma dor irrepetível. Insisto em fazer a vida acontecer, vou continuar até a minha energia se esgotar.
E juro, em voz alta para que me ouça, que tudo isto é verdade.

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1 comments:

  1. Anonymous says:

    Muito bom!
    É teu?

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