Ser Designer

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Para quem não sabe, apesar de ter um blog que poderia sugerir variadíssimas outras coisas, sou designer de profissão. Este post vem a propósito da muito frequentemente manifestada opinião dos meus amigos, que me dizem, na sua melhor intenção, que deveria mudar de emprego. Na verdade, é comum ouvir um designer dizer, depois de trabalhar 2 ou 3 anitos, algo do género: 'se soubesse o que sei hoje, tinha ido tirar Gestão.' Suponho que nunca nos tenham contado a verdade para não irmos encher as vagas dessa malta. Mas ninguém disse e nós ingénuos, lá andamos 5 anos enganados para ostentarmos orgulhosamente uma profissão que até há poucos meses atrás tinha como categoria profissional nas finanças: 'artistas - outros.' O que é uma grande desconsideração, porque, vendo bem, os designers são uma raça apurada de humanos.
Conseguimos trabalhar 36 horas seguidas sem matar ninguém.
Conseguimos ouvir 353.467 vezes ao longo da nossa vida que a nossa profissão é fazer bonecos, sem perder a paciência.
Conseguimos ouvir um cliente dizer: "gosto de tudo, menos desse 9. Não sei.. parece-me um 6 invertido" sem lhe dizermos que existe uma probabilidade matemática bastante alta de que ele seja um perfeito imbecil.
Conseguimos fazer campanhas em duas semanas que pagam o nosso ordenado todo o ano, saber disso e ultrapassar esse facto apenas com uma alka-seltzer.
Conseguimos ouvir alguém dizer que adora Comic Sans e mesmo assim manter uma cara séria.
Somos as únicas pessoas que chamamos Cyan ao azul e Key ao preto. Também só nós sabemos o que é uma tabela de pantones e qual é a diferença entre cor directa e quadricromia.
Somos as únicas pessoas que fazemos apresentações em Flash e action script e não sabemos fazer 1 slide em Powerpoint.
Somos as únicas pessoas que fazemos os nossos amigos transbordar de felicidade quando montamos as caras deles nos posters dos seus filmes favoritos.
Compramos panos de cozinha a condizer com os azulejos, meias a condizer com as calças e gravatas a condizer com o vestido da esposa.
Gozamos com o nosso namorado que tem um sofá amarelo e umas cadeiras azuis, e com o cãozinho de loiça da porteira.

Organizamos a nossa roupa interior por cores e achamos que isso é normal. Ouvimos o despertador tocar quando vamos a caminho de casa num táxi e desejamos que isso não fosse normal.
Somos uma raça tão perfeita, que é uma pena que a nossa esperança média de vida deva estar algures nos 30 anos, porque senão, tenho a certeza, seríamos donos do mundo.

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4 comments:

  1. karina says:

    Não mencionaste o facto de nós, designers, conseguirmos distinguir 10 tons diferentes de rosa pelos seus nomes. Sim, porque magente é diferente de fuchsia! Da mesma maneira que lavanda, malva, roxo, lilás e púpura serem cores TOTALMENTE distintas! Mas mesmo assim, quando dizemos "isso não é verde, é azul esverdeados", ainda ouvimos "estás daltónica!". E a nossa capacidade vai muito além de distinguirmos cores. Temos a capacidade de ouvirmos todas as barbaridades possíveis, ficarmos com vontade de torturar as pessoas com dispositivos medievais, mas mesmo assim respondermos "sim, se calhar sou daltónica! só li os mais variados calhamaços da teoria da cor, mas eu sou daltónica!".

    E para terminar, amiga e colega designer, só nós compramos livros/cd's porque "a capa é tão gira!!!!!!! nao sei do que se trata, mas é tao bonita!!!"

  1. Babs says:

    Portanto, cara colega ao teu texto respondo "Quê? Fizeste mais uma directa?!" LOL Mas com aquela cara de espanto falso!

    Resta apenas dizer que ainda acredito que é possivel ser designer e criativo sem perder a alma... Se bem que não tenho certeza de não ter perdido a minha quando optei por ser designer "não criativa" a favor de um horario normal... Será que ainda posso ser considerada designer?

    Oh Lord... Acho que te esqueceste também de referir que os designers são aqueles que acham que o seu trabalho nunca está suficientemente bom, apesar de estar espectacular para todos os outros designers à tua volta e que acha que por isso o cliente tem sempre razão...mas que fique aqui bem claro... NUNCA TEM! (a menos que seja outro designer... esses nós perdoamos!)

  1. Bruno says:
    This comment has been removed by the author.
  1. Bacardi says:

    Várias considerações:
    - Quando digo que devias mudar de emprego (e sim, eu devo de ser a alma que mais vezes diz isso, não fosse eu do mais chato que há), não digo para deixares de ser designer. Deverias era arranjar um emprego onde trabalhasses menos. Sei lá, tipo menos do que 10 horas por dia já seria um bom principio. Arrumar carros ou lavar vidros nos semáforos seria perfeitamente aceitável;
    - Não faço a mínima ideia de como será Gestão, mas deve de ser horrível, especialmente para um "Artista - outros" (que, ainda assim é devidamente considerado artista);
    - Nós, informáticos, também deveríamos conseguir trabalhar 26h sem matar ninguém. Mas não conseguimos. Daí surgiu o conceito de First Person Shooter ;)
    - As semelhanças entre o 6 e o 9... não vou comentar...
    - Comic Sans é uma fonte gira
    - De certeza que, daqui para a frente, nenhum dos designers que segue este blog vai continuar a ler, à pala do último comentário. Todos eles vão deixar de me respeitar :P
    - Quadricromia (e não quadricomia) soa claramente a nome de DST.
    - Powerpoint é daquelas coisas que se aprende nos cursos de Gestão. Só essa malta é que faz apresentações. Todos os restantes têm efectivamente de trabalhar, e não têm tempo para essas inutilidades;
    - Panos de cozinha a condizer com azulejos chama-se atenção ao detalhe. Meias a condizer com calças chama-se ser gaja. Organizar a roupa interior por cores não sei como se chama, mas já me parece algo que roça o patológico :P
    - Se eu ouvisse com frequência o despertador tocar quando ia num táxi a caminho de casa seria sinal de que o meu chefe teria de se começar a preocupar com a sua integridade física. Lá está, vocês designers trabalham 26h sem matar ninguém. Nós não ;)
    - A única maneira de eu distinguir 10 tons de rosa seria pelo seu código RGB. É que nem o meu vocabulário abrange a noção de que existam mais do que 4 ou 5 tons dessa (ou de qualquer outra) cor.
    - Quando vos acusarem de ser daltónicas, inundem os ouvidos da dita pessoa com toda a teoria da cor sobre a qual leram. Ela eventualmente vai-se cansar de vos ouvir, e vai-vos dar razão ;)

    Ah, e já te tinha dito, mas para que conste: achei este teu post genial :D

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