Parte-me o silêncio ao meio

No dia em que te deixei ir o meu coração parou. Parou, não porque estivesse cansado, mas por uma necessidade básica, elementar, de parar de sentir. Entretanto, as minhas mãos encheram-se de dias, de céus ruidosos, de quilómetros e de flores.
Sugeriram-me de tudo: o alcóol, o Prozac, a libertinagem. E eu, obediente, trouxe todas essas receitas comigo para casa e não dei conta de nenhuma.
Tentei explicar-lhes o inútil de tentar calcular a raíz quadrada do meu problema por lógicas matemáticas, porque o meu coração não obedeceu nunca à linguagem de métricas quantificáveis.

Fiz um pacto de paz com a minha fé. Decidi não acreditar em coisa alguma porque o mundo já me provou o contrário e o seu inverso vezes demais, e foi assim que comecei a acreditar em acasos e na implacável dureza da saudade.
Perdoa não te devolver o lume, aquele desse autor que tanto apreciámos e que sabias de cor e juro, quando o dizias, todas as palavras eram borboletas.
Falar é-me díficil, como se tivesse a língua presa a uma cadeira de rodas. Não sei explicar mas é assim e julgo que também tu me compreenderás acerca dos terrores da habilidade linguística. A escrita é a extensão possível da voz, e é só.

Há muito pouca beleza no que digo e foi assim que o meu coração se tornou autista.

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